segunda-feira, 22 de março de 2010

A poesia da minha vida

Soneto Nº12
Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta tempora assedia;

Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia a sobra franca
E em feixe atado agora o vejo trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;

Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono

Morrem ao ver nascer a graça nova.
Contra a foice do tempo é vão combate
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.

William Shakespeare

segunda-feira, 15 de março de 2010

Da dor

Olha bem, consegue ver?
Os meus pedaços por ai, e os remendos que tenho tentado fazer?
Consegue enxergar tudo isso?
Como as partes não se encontram mais!
E os meus pedaços se vão por aí entre as desilusões e o fingir que a rotina pede!
Consegue ver?
A raiva nos olhos de alguém que já chorou todas as lágrimas que podia nos últimos dias,

Meses

Anos

Raiva sim, pois os olhos secaram, já não brilham mais.
Não há nada mais triste do que olhos secos.
Consegue ver?
O brilho foi mais um, dos pedaços que ficaram por aí, por aqui, pelo caminho tantas e tantas vezes percorrido de ir e voltar.
Todos os dias são de não ser feliz, peito sangrando e grandes tormentas ao invés de pensamentos.
Revoltas entre sonhos enterrados e vontades inatingíveis.
Hoje o ideal era dormir pro amanhã não existir.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Descrições da moldura no quarto

Perder
a partida? o vestido? o compromisso? o telefone? o trem? o sono? tempo? o brinco? a confiança?

Brinco
de usar? de correr? de pular? de esconder? de achar? de fugir? de casinha?

Fuga
das galinhas? do amor? da noiva? do bandido? do amante? do menino? da mãe? dos sentidos? das palavras? dos sentimentos?

Palavras
que palavras? faladas? lidas? cantadas? blasfemadas? sussurradas? no papel? na discussão? no retrato? na esquina?

Retrato.
Em sépia. Olhos que te fitam e palavras sussuradas.
Antes brincávamos de fugir, agora perco o sono.